quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A CRIANÇA HOSPITALIZADA E A BRINCADEIRA

         E estou, atualmente, servindo como voluntária em um hospital de crianças que apresentam a terrível doença de todos os séculos, uma vez que sua cura total, ou preventiva, ainda não surgiu definitivamente na medicina  - o câncer.
         Como tenho acompanhado o trabalho educativo, educacional neste hospital, pude avaliar a importância do brincar para as crianças que passam, na maioria das vezes,  o dia todo dentro dele.
         Com uma excelente estrutura física, material e de pessoal, as atividades escolares ali desenvolvidas vão desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, sob a supervisão de uma Professora muito competente.
         Assim, percebi como o brincar, para estas crianças, é uma atividade extremamente necessária à aprendizagem e desenvolvimento contínuo, sem interromper a sua atuação escolar. Muitas não conseguem frequentar normalmente a escola, em função do tratamento, que exige horas de quimioterapia, acompanhamento de diversas áreas médicas, alimentação balanceada, etc.
         Quando propomos atividades escolares para elas, nem sempre estão dispostas a realizá-las mas, ao convidá-las a uma brincadeira, jogo, leitura, interação com palhaços, ainda que colocando neste meio as lições da escola, elas participam com muito mais entusiasmo.
          Esta adaptação do brincar hospitalizado à rotina das atividades escolares faz com que as crianças consigam lidar melhor (pelo menos um pouco) com as situações complicadas da vida, estabelecendo relações amigáveis com os profissionais que dela cuidam, estimulando e aprimorando um desenvolvimento social e interpessoal, em que a dor física e emocional acabam por serem minimizadas.  
           Aquelas que estão em idade pré-escolar aprendem e divertem-se com as brincadeiras simples e jogos sem regras, interagindo com o ambiente, elevando sua autoestima, uma vez que o nível de estresse pelo qual passam é bem alto.
           A hospitalização pode criar medos reais ou até mesmo imaginários em relação ao próprio local, aos profissionais, às amizades criadas ali, sendo demonstrados através de choros, agressividade, ansiedade, depressão, recusa, falta de sono (ou excesso), uma vez que o fato de estar em um ambiente que não é a sua casa, seu porto seguro, em condições de debilitação, modifica a vida da criança.
           Através de atividades lúdicas a criança relaxa, diminui o nível de estresse, sente-se mais confiante e confia também mais nos profissionais que dela cuidam, percebe que a família continua próxima à ela e que sempre haverá uma esperança para que seu mal acabe e seu sofrimento possa, um dia, ser praticamente esquecido.
           
Valéria Koury
2015