quinta-feira, 8 de outubro de 2015

BRINCAR - OS PRIMEIROS TRAÇOS PARA A VIDA ADULTA

      Você já observou sua criança brincando com seus brinquedos simbólicos e imaginários, como bichos de pelúcia, carrinhos, bonecas, tampas e panelas? Não? Se você parar e prestar atenção em suas brincadeiras poderá perceber que ela consegue transformar qualquer objeto em um super-herói, em um detetive, um astronauta, um pai ou uma mãe, ou ainda a professora adorada ou odiada.
     Estas ações do universo infantil retratam que ela ( a criança) vive seu mundo narcisista e onipotente, onde ela se concentra de tal forma que o adulto só consegue entrar quando ela ( a criança) o permite.
         Através destas brincadeiras simbólicas a criança remodela a interferência que recebe e que sofre de conceitos e contextos do mundo real; desta maneira, ela adapta e se defende da maneira que vê o mundo autoritário, confuso e, muitas vezes, irônico dos pais, fazendo uma leitura própria de seu mundo, sem ser cruel (ainda que assim o pareça), apropriando-se do espaço adulto pela forma que enxerga o ambiente e as suas representações dos seus alter egos.
         Assim, a criança transita entre o real e o imaginário, de maneira lúdica, sensível e sutil.
       Muitas vezes, a criança usa um objeto transacional, como um bicho de pelúcia, um pano, um cobertor, para superar frustrações, assumindo estes objetos o papel de ego auxiliar, o porto seguro de seu consciente.   
     Os objetos em questão funcionam como algo passível de ser interpretado, atingido em sua compreensão, criando vida como ponte entre o mundo imaginário e o real, servindo de um "anestésico" para o universo adulto, duro e real, amortecendo fantasias, mágoas, emoções, descobertas e desilusões. 
       A criança muda, constantemente, de referência. "A realidade, nesta fase, depende profundamente da situação" (Watterson, 1985). Portanto, quando para um adulto a criança está categoricamente mentindo, para ela (a criança) há uma forte convicção de que o que diz ou faz é a mais pura verdade.
       Ao brincar a criança situa seus primeiros passos para a fantasia, e as brincadeiras proporcionam à criança a possibilidade de  experimentar emoções, sentimentos, perdas, frustrações. 
       Segundo Klein (1882-1960), "é na brincadeira que se exteriorizam os jogos internos, como um meio de obter prazer pela manipulação da angústia". e isto a leva a uma elaboração projetiva. 
     Desta maneira, para Winnicott (1896-1971), "as crianças o fazem para dar vazão aos seus impulsos agressivos e coléricos, num cenário que ela conhece e que todos aceitam". Portanto, a criança vivencia emoções, interage com o mundo real através do imaginário, tateando os mundos interno e externo de seu ambiente. 
       Dentro destes conceitos, o adulto tem um papel muito importante na construção da personalidade infantil, como a mãe que protege, o pai que ampara, os avós que sublimam seu ego e, se estes, conjuntamente, conduzirem esta passagem da infância para o pós-infância de forma bem feita, um adulto completo estará em formação. Isto se dará se o objeto de transição, citado anteriormente, for bem compreendido.
        A escola também precisa compreender este objeto transicional, pois quando a criança começa a fazer parte deste mundo educacional, tão diferente de seu lar, muitas vezes a criança precisa dele como apoio, segurança e autoafirmação. Quando a escola não respeita este momento da criança ela estará levando-a a frustração, angústia e mágoas. Ao contrário, quando ela o aceita como uma fase necessária à superação da separação momentânea da família, ela (a escola) respeitará não só a criança como suas emoções, sentimentos e dúvidas.
        Portanto, cabe a todos os adultos facilitarem à criança a sua adaptação ao mundo real através dos brinquedos e brincadeiras em que a fantasia e a imaginação são os seus instrumentos mais próximos da sua realidade.

Valéria Koury
2015         

                                                              
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terça-feira, 6 de outubro de 2015

O HOMEM E A ARTE

   A arte, de forma geral, revela os valores estéticos, éticos, morais e a significação das potencialidades humanas.
      Revela, também, sentimentos, identidades e características individuais e próprias, o coletivo cultural da humanidades, através de diversos elementos para vários fins.
      Assim, à partir desta visão geral e ampla, pode-se apresentar um discussão sócio-cultural das suas diferentes manifestações, como a dança, o desenho, a pintura, a escultura, o cinema e a televisão, a literatura, a música, a xilogravura e tantas outras formas artísticas que foram criadas pelo homem.
    Falar sobre arte não pode se limitar a apenas uma de suas manifestações ou à uma única concepção, uma vez que cada ser, individualmente, cria sua própria visão imaginativa dentro de seu significado, interagindo nos conceitos sociais e culturais em que vive.
      Discutir a arte é alicerçar-se em suas próprias convicções, ampliando-as através e a partir do outro interativo, desde que se tenha uma visão aberta para horizontes mais longínquos, evitando-se assim arquétipos pré-estabelecidos, estanques e engessados na criação da obra humana.
    O objetivo de quem propõe a arte precisa estar sempre voltado a fazer com que o indivíduo compreenda o homem contemporâneo em sua totalidade, desfazendo mitos de um "ser repartido", fragmentado e desconectado do mundo em que vive.
   Desta maneira, retratar algumas destas infinitas vertentes da criação humana, refletindo, simbolizando e materializando seu dom imaginativo faz com que cada um assuma seu lugar na sociedade de forma consciente, atuante, participante e comprometida com a coletividade, deixando de pensar apenas em si para se voltar ao próximo, levando a ele o melhor da vida através do interesse íntimo do ser criador.
     Nesta perspectiva, e pensando na criança pequena, a dificuldade de comunicação e de manter relações afetivas e em relação a adolescentes, a dificuldade da superficialidade dos relacionamentos, o individualismo e o egocentrismo, a solidão e o isolamento, pode ser abordada nas diversas manifestações artísticas e culturais, levando a uma reflexão interior, a partir de si mesmos e de suas construções produtivas, não com olhos ao que será aceito socialmente, mas sim, aceito por cada ser criador.
      Em um mundo em que se valoriza tanto o EU e o consumo, tão multifacetado, crianças e jovens parecem necessitar de mais oportunidades para se desenvolverem livremente, sem a pressão obsedante de resultados e metas a serem alcançadas profissionalmente (notas, vestibulares, escolhas profissionais, etc), inclusive se permitindo sentirem-se introspectivos em certos momentos, para se autoconhecerem melhor e mais profundamente, vendo-se através de um olhar mais cuidadoso para seus verdadeiros desejos.
      Ah! como seria bom se deixássemos nosso lado direito do cérebro funcionar mais livremente que o esquerdo. O hemisfério cerebral direito é mais ágil no processamento das emoções e, portanto, consegue expressar mais facilmente os sentimentos positivos, que geram o senso estético e ético das artes, fazendo com que os sentimentos de medo, raiva, mágoa e outros sejam afastados no momento da criação. Melhor dizendo, quando usamos mais o lado esquerdo do cérebro trabalhamos mais racionalmente que emocionalmente, o que pode conduzir à uma criação menos expressiva e mais racional, pensada e equilibrada.
      Não que o lado direito do cérebro não expresse sentimentos negativos, muito pelo contrário, nele estes também estão presentes. Mas, a liberdade de expressão sem pressão se dá via hemisfério direito.
      Portanto, se você quer ser criativo procure formas de usar o lado direito de seu cérebro, desenhe, por exemplo olhando uma imagem de cabeça para baixo e seguindo as linhas que vê e não a imagem que pensa que vê. Você irá se surpreender com o resultado.
      Experimente o mundo por outros olhos! Sinta, toque, cheire, movimente-se, ouça através de seu corpo todo e de seu espírito, deixando-os livres para exercerem o que o homem faz de melhor: CRIAR.
                                                             
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          Por: Valéria Koury
          2015