domingo, 6 de dezembro de 2015

O DESENHO COMO EXPRESSÃO DE COMUNICAÇÃO PARA A CRIANÇA HOSPITALIZADA

O DESENHO COMO EXPRESSÃO DE COMUNICAÇÃO PARA A CRIANÇA HOSPITALIZADA
Nenhum comportamento de "birra" encerra em si a totalidade da expressão da criança. Por meio de sua birra, a criança denuncia sua dor – algo constitutivo da situação em que está vivendo em um hospital —, denuncia relações impessoais que negam a sua identidade. No momento do seu "grito" ou de sua expressão de dor e choro, segue o eco de alguém que diz: “olha, eu estou aqui!”, portanto, seu grito deve ser ouvido em toda a sua extensão, não devendo ser reprimido nem regulado na sua forma de expressão.
Assim, é de suma importância a criação de espaços em que a criança possa expressar sua emoção dentro do contexto hospitalar.
Não se pode esquecer, neste sentido, a presença de comportamentos que surgem rotineiramente em um processo de hospitalização, como, por exemplo, a modificação na dinâmica familiar, a interrupção ou o retardo na escolaridade, as carências afetivas, a privação materna, as agressões físicas e psicológicas e emocionais.
O cenário do hospital, como uma realidade, destitui a criança da sua função: ser criança. Os aparelhos computadorizados, as luzes que piscam, os incontáveis números de fios – soro, transfusão de sangue – que limitam seus movimentos, as pessoas que ali trabalham, com suas roupas brancas e comportamentos estereotipados, as crianças sem suas roupas confortáveis, seus brinquedos, os tubos e as máscaras de oxigênio, que lhes dificultam os movimentos e ultrapassam a sua condição de paciente.
Dentro deste contexto, e no momento em que a criança desenha, expressando assim suas angústias, ela materializa, a imagem que criou internamente para dar conta das suas emoções, e por meio desta  materialização, passa a conhecer, organizar e elaborar suas emoções e sentimentos. Portanto, a imaginação da criança está relacionada ao brincar e é  brincando que ela vai, aos poucos, recriando uma nova situação para poder superar a dor da internalização hospitalar, quando à ela é dada esta oportunidade do brincar neste novo ambiente em que se encontra. O desenho faz parte deste brincar, pois através dele a criança imagina, vai longe em seu mundo, lida com as adversidades, cria personagens com os quais consegue lidar.
Como processos complexos, a memória e a imaginação transparecem no desenho por meio dos esquemas figurativos dos objetos reais que fazem sentido para a criança e que estão carregados de significação, (Ferreira, 1998), sendo ainda mediado pela linguagem, por seus signos e pela interação com os outros.
Cabe, portanto, às pessoas que rodeiam a criança hospitalizada proporcionar-lhe um ambiente favorável para que ela possa se utilizar de tão importante instrumento de satisfação e superação: o desenho que nada mais é do que uma maneira de a criança se comunicar externamente com este mesmo meio em que está situada em um determinado momento de sua vida.
Valéria Koury
2015